quarta-feira, 9 de julho de 2008

A SÓS COMIGO


...eu cá, a sós comigo
mal me reconheço

deveras ontem eu era assim:
tão decidido a qualquer coisa exata
tão determinado a algo sem valor algum
tão convicto que em mim guardava-se a herança de grandiosos Reis e Senhores,
o plano inexistente
o fardo inefável das civilizações modernas

...mas hoje cedo, quase que da noite pro dia
tudo se perdeu de mim

...e me vi acabrunhado
olhando meio que de lado, a luz,
que pela janela despia o quarto

tive medo de levantar; não eu!
mas uns outros tantos que me obrigaram pelo caminho.

(Rui Mascarenhas)

BAHIA!


BAHIA!
Com todo teu espírito primitivo
O sebo de tua eterna sujeira
Tuas crenças amarrotadas
Regurgitadas sobre teus filhos lúdicos!

BAHIA!
Tuas cores pastéis
Teus becos esguios e maliciosos
Teu inconfundível cheiro de humanidade e restos!
.
Mas...
Eu queria falar de tuas meninas nuas
Com lábios rosados no centro da cidade

Mas...
Eu queria falar de teus meninos nus
E seus paus famintos no centro da cidade

BAHIA!
Eu conheço o menino que corre assustado!
Eu conheço a menina que brinca
Com a Gilete na Boca!

BAHIA!
Eu conheço o Menino revirando o lixo!
Eu conheço a menina das coxas
Perfumadas e Rasgadas!

BAHIA!
Eu conheço o menino de suave dorso e sorriso lindo!
Eu conheço a menina segurando o Caralho e Rindo!

Eu não tenho dinheiro Garota!
Eu não tenho trocado Pivete!
Eu não guardo miúdo Meu Velho!

Passa!!
Se afasta!!
Seu guarda!
Tire essa gente daqui!

(Rui Mascarenhas)